segunda-feira, 9 de março de 2015

Paciência Dilma? (A diversificação do modus operandi da dominação burguesa - Parte II)




Terminamos o último artigo afirmando que a direita e a esquerda lutam para ver quem melhor administra o Estado para serviço do capital na America Latina, só para lembrar que partimos da metodologia marxista da luta de classes, gostaria de começar apenas fazendo a construção teórica acerca da evolução das diversificações da maneira de agir dos representantes da inteligência mundial, mas o dia de ontem, (08 de março) a nossa companheira Dilma, presidenta do Brasil, do meu partido e que apoiei nas últimas eleições, veio a público, em rede nacional fazendo uma análise conjuntural, afirmando que a atual crise é passageira, e nisso ela tem razão, a cíclica capitalista chegou definitivamente em nosso país, já tivemos essa sinalização, aquilo que o companheiro Lula chamou de “marolinha”, mas agora temos a beira de nossa porta uma Tsunami,e a pergunta é quem vai pagar a crise?



Devo adiantar para os que acreditam que minhas críticas são meramente oportunistas, que meu objetivo com minhas publicações e delimitar o campo de atuação da esquerda revolucionária, que anda nos últimos anos sem pai e sem mãe! 

E nesse sentido o pronunciamento ontem da companheira Dilma, nos serve como um estudo de caso para todas as nossas afirmações, mas para além de um exercício acadêmico, devo, também, salientar que vamos querer “puxar a brasa” para nosso lado, 

Enfim, além de reconhecer que a crise mundial chegou definitivamente, como causa estruturante de nossa atual crise econômica, que gera de imediato a drástica redução do crescimento econômico, o que resulta imediatamente em medidas protetivas do crédito para o consumidor final, até por que a estratégia da equipe econômica, desde o primeiro mandato do presidente Lula, foi e ainda o é, a ampliação do mercado consumo, dessa forma, ao incluir mais e mais cidadãos ao mercado de consumo, liberando assim uma demanda oprimida de anos, as décadas de consumo mundial foram as imediatamente posteriores as guerras mundiais, no Brasil tivemos que esperar o PT chegar no governo.

Enfim, esse processo de ampliação do mercado, gera de imediato, duas conseqüências que desenvolvem o capitalismo, a primeira que é a base de sustentação do sistema é o aumento do lucro provocado pelo incremento do consumo e com isso, uma alta do investimento interno e estrangeiro no país, seja ele para a área de produção ou apenas capital volátil. O segundo é fazer com que circule dinheiro na economia nacional, principalmente com as políticas de distribuição de renda e de valorização, mesmo que tímida, do salário mínimo.

Essas duas etapas distintas e combinadas, somada ao alto crescimento econômico da China, permitiu ao Brasil criar uma “gordura” econômica que garantiu certa estabilidade, certo crescimento e certo aumento de produção de bens de consumo no país.

Essa combinação de fatores se modificou completamente, com a crise mundial, que é principalmente caracterizada por dois grandes fatores, a desaceleração da economia chinesa e da crônica crise européia, essa parte da crise européia merece destaque, mas ficará para outro artigo, mas adianto que o fim do bem estar na Europa, representa tanto para a esquerda no mundo como a queda do muro de Berlim, e é apenas a segunda etapa da estratégia da inteligência mundial.

Nesse sentido as ações anunciadas pela companheira Dilma são reveladoras, afinal de contas, em momento de crise é necessário apertar “os cintos”, e isso certamente foi agravado pela atual crise hídrica que o país atravessa, segunda Dilma, é a maior seca do nordeste e sudeste que atravessamos, e isso gera momentaneamente o aumento temporário das tarifas de energia e de alguns itens da cesta básica.

E que medidas são essas?

Primeiro é a receita clássica de gastar menos, ou seja, cortar gastos do governo e a segunda é aumentar em contrapartida a arrecadação. Receita velha, mas com um único resultado: recessão!

E nesse aspecto a companheira Dilma nos pede paciência, mas paciência que tivermos para poder chegar ao tão sonhado mercado de consumo? Afinal esperamos mais de 500 anos para chegar ao poder político e administrativo do Estado, paciência a companheira Dilma no pede depois de sermos humilhados por sermos do norte, por sermos pobres, por não termos acesso as universidades, não ter acesso a saúde, a previdência e a segurança pública.

Em todo caso o pedido de paciência da companheira Dilma, acaba de ser elevado a um fato social, condição especial de análise das ciências sociais, não pela pelas palavras em si, mas pelo o que ele significa!

Quando discutimos o refinamento do modus operandi o pedido de paciência da companheira Dilma eleva esse fato a enésima potência, mas não quero me ater a isso, não nesse momento, mas sim voltar ao tema do artigo, pois ele é bem representativo, o pedido de paciência da companheira Dilma, se utiliza da confiança que a militância de esquerda desse país tem em seu governo, utiliza da bagagem de luta de décadas de construção do PT e da CUT, utiliza todas as conquista sociais inclusivas das ações de governo, incluindo o de Lula, mas acima de tudo, utiliza sua roupagem de esquerda para administrar a crise.

E esse é um modus operandi, não refinado, mas bem típico de governos de esquerda que romperam com o Stalinismo pós queda dos estados operários deformados, mas acima de tudo representa um custo a menos para a burguesia, pois, seremos nós que vamos pagar novamente pela crise.

Ao reduzir gastos quem será diretamente atingido? Somos nós que dependemos dos investimentos em Saúde e Educação, e a companheira Dilma (não o ser humano, mas o fato social relevante) veio pedir paciência! Desculpe mas dessa vez não posso e nem devo ficar calado, quem tem que pagar essa crise são os ricos, os endinheirados, os que querem sua cabeça na bandeja!

Como? Taxando as grandes fortunas, taxando o capital especulativo, taxando a remessa de lucros, taxando os investimentos estrangeiros no país, taxando a produção de grãos estocados, taxando a baixa produção de bens de consumo, ou seja, aumentando os impostos quando a produção abaixar da média dos últimos doze meses e reduzindo quando essa produção for superior ao mesmo período de tempo, combatendo a sonegação fiscal, só a arrecadação perdida da Rede Globo pagaria longos meses dessa crise, e continuando com a política de incremento de inserção ao mercado de consumo, mantendo as atuais políticas de crédito e de micro-crédito, aumentando os recursos do Bolsa-família, enfim, apostando na fórmula inversa apresentada em seu pronunciamento.


Vou encerrar por aqui, as longas postagens no blog não o tornam atrativo, mas fica o compromisso de voltar ao tema, afinal temos o desafio de elaborar sobre a perspectiva atual do país, da luta anti-fascista e, sobretudo, estabelecer, dentro da concepção marxista um esclarecimento sobre em que posição o PT se encontra nessa atual etapa da luta de classes.

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