quarta-feira, 19 de junho de 2013

O Junhaço brasileiro: Quando a dor da dura realidade corta o efeito do ópio midiático que sustenta um dos regimes mais desiguais do mundo!



O São João com fogueiras nesse mês de junho foi substituído pelas lutas nas ruas, segue abaixo, o texto do Camarada Reginaldo, professor, comunista e o qual tive o privilégio de ser seu companheiro no Grêmio Estudantil Gisele Miranda, do Colégio Lauro Sodré, nos ritos de 1988. De lá para cá, manteve inalterada sua conduta e sua obsessão pela luta revolucionária, um exemplo, de homem e de luta, meu mentor, amigo e camarada, quero agradecer por sua autorização em publicar suas reflexões nesse blog que insiste em afirmar que a verdadeira Revolução só vira com a construção do verdadeiro partido revolucionário, e nele estaremos juntos, tenho certeza!
Há mais de uma década estamos sendo bombardeados pela mídia golpista com notícias que exaltam o grande crescimento econômico do Brasil, sua inserção no mercado global e a redução contínua das taxas de pobreza. Em tempos recentes, em clima de êxtase, foram divulgadas informações de que o Brasil alçou o posto de 6ª maior economia do mundo, ingressou no clube de países com elevado IDH e estava em vias de erradicar os últimos bolsões de pobreza com a ampliação do programa bolsa família.
Essa nova era de progresso seria coroada com a realização do evento esportivo mais importante do planeta e o mais amado pelos brasileiros: A copa do mundo. Marcar-se-ia para sempre na história do país e vender-se-ia ao mundo um modelo de sucesso, ancorado na eficácia absoluta do receituário neoliberal que caracterizou os governos nacionais das duas últimas décadas (PSDB e PT), no qual o sacrifício da austeridade fiscal inicial, marcado pela redução drástica dos investimentos sociais, seria sempre recompensado com a prosperidade econômica e social para todos em sua fase seguinte. 
Assim como o corpo se esgota com a droga entorpecente, inutilizando o cérebro até mesmo para continuar processando suas ilusões, a sociedade se exauriu de sua própria penúria e sente a dor da opressão quando recorre ao Estado que não mais consegue entorpecê-la com o pão e o circo. O espetáculo midiático do progresso foi interrompido quando o acúmulo das mazelas chegou ao limite e aniquilou a esperança de uma grande massa de brasileiros por dias melhores. Não foi possível ao Estado brasileiro conciliar os opulentos banquetes ao capital nacional e estrangeiro, com suas generosas transferências de recursos públicos a título de investimentos em infraestrutura e pagamentos de dívidas públicas, e continuar domesticando o povo com migalhas. Os homens não são cães, passíveis de serem subjugados para sempre apenas com um punhado de comida!
O povo tomou conta das ruas do país de norte a sul, de Belém a Porto Alegre, na maior manifestação pública dos últimos 20 anos. A decrepitude dos serviços públicos no Brasil ultrapassou todos os limites da tolerância. Sua face mais cruel se apresenta na saúde, educação, transporte e segurança pública cujos efeitos sempre atingiram a população de baixa renda e agora também a classe média. Somado a esses pontos de deficiências históricas, coloca-se o desvio bilionário de recursos públicos para construção de infraestrutura para copa do mundo e olimpíadas, a corrupção e a impunidade que atingiram índices recordes, despertando o ódio no povo a proposta de blindá-las com a PEC 33, e o retorno do fantasma da inflação. 
Apesar de toda tentativa de ludibriar o povo brasileiro, não houve como evitar os nefastos efeitos da corrupção e da transferência legalizada de nossas riquezas para os grandes grupos econômicos. Temos uma das piores educação do mundo, atrás do Haiiti por exemplo, e em IDH estamos com índice abaixo o da Venezuela, país sempre massacrado pela mídia nacional como pior modelo político e econômico da América do Sul. Vivemos o caos diário quando saímos de casa, se não formos vítimas da violência urbana, ao andar por ruas e estradas destruídas, ônibus superlotados, hospitais públicos falidos e escolas desmoronando na cabeça de nossos filhos. 
Em Roraima, os problemas são ainda mais graves por conta do provincianismo e do sultanismo exarcebado dos dirigentes políticos. Como não temos produção econômica auto-suficiente e uma classe empresarial forte, os recursos advindos do governo federal para obras em infraestrutura e manutenção dos serviços públicos são ainda mais surrupiados pelos governantes por conta de sua fusão com as empresas prestadoras de serviços. Isso faz com que em uma obra de asfaltamento de uma estrada orçada em 1,3 milhão, somente 300 mil seja aplicado na prática, como foi o caso da denúncia feita na ALE envolvendo o deputado que chamou os estudantes de “macacos”. Isso também explica o fato de que, apesar de termos o um dos maiores investimentos percapita em educação do país, nossas escolas públicas são um amontoado de escombros. Disso tudo resulta o acúmulo imensurável de riqueza de nossos dirigentes políticos, que se comportam como se fossem verdadeiros sultões à custa do patrimônio público, e a total precariedade de nossos serviços públicos.
Não há saída para o Brasil que não seja pela via da revolução social. Todo modelo político e econômico até agora implementado apenas manteve o status de país com a maior concentração de renda do mundo. Não existe perspectiva de desenvolvimento econômico e social sem distribuição de riqueza, assim como não há meio de transferir somas colossais de nossa riqueza nacional ao grande capital sem comprometer a qualidade de vida dos brasileiros.
A mudança necessária é a mudança de sistema político e econômico e não apenas dos governos continuístas. 
Parece que um dos slogans do espetáculo circense usado para entorpecer o povo nesse momento de exaustão social se tornou um tiro pela culatra: “Vem para rua que ela é a maior arquibancada do Brasil”. Mas o povo não fez das ruas uma mera arquibancada para assistir inerte tudo que está acontecendo e sim seu principal campo de batalha!


Reginaldo Carvalho

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