domingo, 7 de maio de 2017

A POLÍTICA SUICIDA DO PT E A AUSÊNCIA DE UMA DIREÇÃO REVOLUCIONÁRIA.

o PT pode ser forçado a ir além do que deseja em 2018?

A atual crise política que o país atravessa é reflexo de uma crise antiga. Com consequências ainda maiores que os nossos pobres teóricos não compreendem mais, remontam ainda da segunda metade do início do século passado, logo depois da morte de Lenin e que ainda hoje não foi respondida satisfatoriamente por nenhuma geração até os dias de hoje.

Não é papel desse pequeno artigo se lançar para discutir a conjuntura atual em sua mais complexa forma, mas tão somente discutir um aspecto dela que ainda é determinante para que ela prossiga vitoriosa sobre as conquistas históricas dos explorados.

Certamente a crise de direção revolucionária provocou durante anos recuos ou derrotas do explorados em suas lutas nas mais distantes regiões do mundo. Não vamos nós ater aos aspectos genealógicos de sua origem nem tampouco de seu conceito, pois quando Trotsky afirma que a maior crise de seu tempo é a crise de direção revolucionária ele já explicava todas as variantes e determinava assim as saídas para essa crise.

Tampouco vou cobrar a leitura do Programa de Transição de quem quer que seja, hoje eu acredito que mesmo o Manifesto Comunista seja o livro de cabeceira de pouco iluminados, pois o conhecimento revolucionário virou artigo de luxo de poucos que andam dispersos e sem caminhos para se dedicar, produto direto da crise de direção revolucionária.

Para Trotsky (1936):

Os falatórios de toda espécie, segundo os quais as condições históricas não estariam "maduras" para o socialismo, são apenas produto da ignorância ou de um engano consciente. As premissas objetivas da revolução proletária não estão somente maduras: elas começam a apodrecer. Sem vitória da revolução socialista no próximo período histórico, toda a civilização humana está ameaçada de ser conduzida a uma catástrofe. Tudo depende do proletariado, ou seja, antes de mais nada, de sua vanguarda revolucionária. A crise histórica da humanidade reduz-se à crise da direção revolucionária.


Essa dinâmica de conceber a crise da humanidade como processo de “ignorância” ou de “engano consciente” fala por si, pois para o Comandante do Exercito Vermelho, havia de fato uma política consciente de sabotagem da URSS, de seu partido, a 3ª Internacional, mas acima de tudo uma conspiração contra os interesses históricos dos explorados.

Desde a tomada do poder pelos Bolcheviques em 1917, houve de fato uma acirrada disputa pelos rumos da revolução, de um lado os marxistas internacionalistas que queria promover a revolução a um processos mundial, pois ele acreditavam que enquanto existisse uma “ilha” de Capitalismo o Socialismo seria ameaçado, de outro lado os nacionalista desenvolvimentistas, que acreditavam que a consolidação do Socialismo na URSS seria a alavanca do desencadeamento da revolução em outros países, tanto um lado como o outro tinham em suas elaborações que determinariam os rumos da história nos próximos 100 anos.

Hoje sabemos que ganhou essa disputa e quais os desastrosos resultados para a luta dos explorados sofremos hoje, em todo caso, é necessário estabelecer um critério que foi determinante para que esse luta política se desenvolvesse e chegassem aos resultados que tiveram, enquanto os marxistas acreditavam que a construção do partido internacional seria a mola mestre de todas as revoluções futuras, com a consolidação do pensamento de Lenin de profissionais da revolução em todos os cantos do mundo, com um partido centralizado e orgânico, com relação intrínsecas com os movimentos sociais, a própria Rússia se utilizou desse poder dual a partir da construção dos Soviets, e da conquista das consciências das massas explorados a partir de um programa mínimo.

Enquanto os nacionalistas soviéticos, liderados por Stalin, compreendia que apesar da necessidade do partido, ele deveria ser nacional e não apenas um e único partido sem fronteiras, mas um conglomerado de partidos nacionais, por exemplo, no Brasil o PCB (Seção Brasileira) e que teria sob sua responsabilidade de encontrar por si as soluções para a tomada de poder e das ações dos revolucionários, do mesmo modo, eles acreditavam que o papel da URSS era de consolidar um bloco hegemônico que pudesse servir de farol para o restante do mundo, mas que o fortalecimento econômico e militar soviético seriam as suas diretrizes principais, pode-se notar isso a partir de 1935 em seu plano quinquenal, onde a URSS se preparava para o enfrentamento militar com o Ocidente.

Em ambos os casos, as teorias foram colocadas a prova, e a própria realidade acabou por combinar as duas teorias gerando uma grande confusão nos corações e mente de gerações de revolucionários pelo mundo, essa questão eu aprofundo em dois outros artigos que estão disponibilizados no Dilacerado, a Revolução no Divã e a Esquizofrenia do Ser Revolucionário, mas cabe aqui destacar que o processo se consolida na vitória da concepção desenvolvimentista nacional.

Para Trotsky:

A tarefa estratégica do próximo periodo - período pré-revolucionário de agitação, propaganda e organização - consiste em superar a contradição entre a maturidade das condições objetivas da revolução e a imaturidade do proletariado e de sua vanguarda (confusão e desencorajamento da velha geração, falta de experiência da nova). É necessário ajudar as massas, no processo de suas lutas cotidianas a encontrar a ponte entre suas reivindicações atuais e o programa da revolução socialista. Esta ponte deve consistir em um sistema de REIVINDICAÇÕES TRANSITÓRIAS que parta das atuais condições e consciência de largas camadas da classe operária e conduza, invariavelmente, a uma só e mesma conclusão: a conquista do poder pelo proletariado.

Essa narrativa proposta por Trotsky levaria em consideração que as premissas da revolução internacional seria obra de um partido internacional, de um partido de profissionais da revolução e de uma direção revolucionária, mas esse partido se encerrou com o final do 4º Congresso da III Internacional, até hoje a IV Internacional não passou de um arremedo sem graça das lutas sociais que precisavam de uma direção firme e forte para a construção do Socialismo.

Isso é bem representativo quando voltamos aos olhos para a América Latina, um dos exemplos é a Revolução Cubana liderada por Fidel e Che, eles não tinham em sua origem a compreensão de evoluir sua revolução nacional para a construção do Socialismo, mas a pressão externa e a luta política interna obrigaram eles a caminharem para o braços da URSS, que mesmo não apostando um único centavo se aproveitou da proximidade de Cuba para construção de seu poderio na Latino América, e com isso inaugurou a fase mais aguda da conhecida Guerra Fria.

No Brasil depois de 13 anos de governos petistas, ano passado sofremos um golpe parlamentar, dentro das regras institucionais que tantos os petistas idolatram, apesar dos motivos da cassação de Dilma serem abertamente forjados e corroídos desde seu nascedouro.

O fato é que não houve resistência social nas ruas e nem mesmo no parlamento, o PT e os movimentos sociais estavam acuados, sobre fortes suspeitas e acusações de corrupção e desvios de verbas públicas, por partes de seus antigos aliados, os atuais golpistas do PMDB. Se é verdade que a burguesia ou setores delas estavam descontentes com a gestão do PT, também é verdade que os banqueiros nunca ganharam tanto dinheiro como ganharam dos petistas, essa métrica matemática aos olhos dos estrategistas do PT eram suficientes para se manter no controle do país.

Ledo engano, as mesadas aos deputados, as liberações de emendas parlamentares, ou mesmo parte de propina em obras públicas não foram suficientes para apaziguar o ódio e o preconceito contra os interesses dos explorados e com isso caiu o governo de Dilma, e hoje todas as pequenas conquistas dos 13 anos anteriores começaram a cair uma por uma, e ainda vão conquistar mais e mais territórios sobre os interesses dos explorados e até agora a reação foi muito inferior, mesmo a greve geral, não conseguiu impedir na semana seguinte a votação da reforma da previdência social nas subcâmeras do Congresso.

O PT teve a direção política do país em vez de organizar o povo nas ruas para sua defesa preferiu entrar no tabuleiro do toma lá da cá, e o resultado foi o golpe, agora espera com angustia que 2017 chegue ao fim e que Lula venha candidato em 2018, e novamente não organiza o povo para resistir e lutar, essa é a crise de direção que vivemos hoje no país e que Trotsky tanto nos alertou.

É possível a criação de tal governo pelas organizações operárias tradicionais. A experiência anterior mostra-nos, como já vimos, que isto é, pelo menos, pouco provável. É, entretanto, impossível negar categórica e antecipadamente a possibilidade teórica de que, sob a influência de uma combinação de circunstâncias excepcionais (guerra, derrota, quebra financeira, ofensiva revolucionária das massas etc.), os partidos pequeno-burgueses, incluídos aí os stalinistas, possam Ir mais longe do que queriam no caminho da ruptura com a burguesia. Em todo caso, uma coisa está fora de dúvida: se mesmo esta variante pouco provável se realizasse um dia em algum lugar, e um "Governo operário e camponês", no sentido acima indicado, se estabelecesse de fato, ele somente representaria um curto episódio em direção à ditadura do proletariado. (TROTSKY, 1936)

Mas o PT se subverteu a uma lógica estranha aos interesses históricos dos trabalhadores e das trabalhadoras, mas sua influência de massa ainda o identifica como sendo um partido de explorados, muito embora o lulismo como força política tenha assumido o seu papel populista nos últimos anos, o fato é que o PT ainda é a maior direção operaria e camponesa do país. E sob sua responsabilidade está a resistência ao golpe e a preparação das condições subjetivas para a luta política que se avizinha com a possível eleição de Lula.

Temos convicção que o PT não organizara o povo para o enfrentamento nas ruas de seu governo, deve cair desgraçadamente e novamente na cretinice parlamentar, ao invés de investir todo o seu tempo em recursos nos movimentos sociais para que estes criem espaços de poder dual, como os sovietes, e assim dar suporte ao futuro governo do PT e quem sabe assim, mesmo que em um curto período de tempo possa caminhar junto com o interesse dos explorados.

Referencia


TROTSKY, Leon. Programa de Transição. 1936

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